Carnaval e Dioniso
“As águas vão rolar, garrafa cheia eu não quero ver sobrar, eu passo a mão na saca, saca, saca-rolha.
E bebo até me afogar, deixa as águas rolar.”
— Saca-Rolha, Zilda e José Gonçalves, 1954
Faltam poucos dias para chegar um dos feriados mais aguardados do ano: o Carnaval.
E você sabia que o Carnaval é uma festa diretamente associada a Dioniso, o deus do vinho? E é exatamente por isso que resolvi trazer por aqui algumas curiosidades sobre essa data e também algumas dicas de como aproveitar a folia.
Eu ainda não tive tempo de me aprofundar na origem do Carnaval e sua relação com Dioniso, mas sei que os primeiros indícios de uma tradição carnavalesca remontam à Grécia Antiga. Como eram povos que ainda dependiam muito da agricultura para sobreviver, festivais que comemoravam a fertilidade e produtividade do solo eram muito comuns.
Assim existiam as chamadas Antestérias, festas em homenagem a Dioniso, que ocorriam entre março e abril, celebrando a chegada da primavera, e era também quando degustavam a primeira safra do vinho.
Essas festividades eram marcadas pelo consumo de vinho e comida, e era comum a inversão das posições sociais: o pobre se vestia de rico, os homens se vestiam de mulheres, as prostitutas fingiam ser donzelas. E foi assim que surgiu o Carnaval moderno e também o teatro.
Aqui podemos lembrar que Dioniso não é apenas o deus do vinho, mas é também o deus da fertilidade, da dança, do teatro e da música. Ele tem natureza instintiva, desinibida, entusiástica e criativa. Sabemos que é um deus ligado ao coletivo, às massas, capaz de transcender o sofrimento, e capaz de nos aprofundar em uma ligação com o divino através do vinho.
E o Carnaval carrega muitos desses traços dionisíacos. Muitos elementos carnavalescos se associam com Ele, como as máscaras, as fantasias, e assim podemos brincar de inverter os papéis e viver outras facetas de nós mesmos. Aqui a alegria, o êxtase de Dioniso, a comunhão coletiva podemos encontrar na folia e na alegria dessa festa, que puxa nossos ânimos para cima, e nos faz lembrar da alegria de viver. No Carnaval, com certeza, não há espaço para a tristeza.
O Carnaval é também a festa profana mais antiga que se tem registro, lembra os bacanais, o espírito libertino geral, além de unir em si elementos contraditórios, sagrados e profanos. E que Dioniso é contraditório isso já sabemos. Um Deus que consegue unir em um festival o sagrado, que é o vinho utilizado em muitas cerimônias religiosas, com o profano, onde se é permitido libertar as amarras daquilo que é considerado socialmente correto.
Assim, deixo aqui com esse texto um convite para você aproveitar o Carnaval da melhor forma e experimentar seu lado dionisíaco. Aqui é permitido viver e ser quem se é, mostrar facetas desconhecidas ou que estão reprimidas, gritar e celebrar.
Bom Carnaval! E como diria Apolo: curta com moderação!